Ao diabo a crônica que eu devia escrever hoje! Sinto o corpo cansado, o espírito deprimido, a vontade incerta. Estou precisando de um banho de poesia. Não de uma poesia participante ou de pesquisa, concreta ou neoconcreta ou eletrônica, mas de poesia levitativa, astronaútica, poesia que me leve a outros mundos longe deste, ao mundo de Chagall, por exemplo. Chagall é de profissão pintor. Sem embargo, de vez em quando desabafa em poemas tão lenitivos nas suas imagens quanto a sua pintura em cores inocentes e frescas.
Ao banho pois.
Woman with a Parasol, Aristide Maillol posted by Stella at 5:39 PM
Acabei de voltar do cinema, fui assistir ao Cidade dos Sonhos, filme do David Lynch. O filme consegue ser ao mesmo tempo maravilhoso, terrivelmente perturbador e estranho. Filmão. Suspense de tirar o fôlego. Não dá pra falar muito do filme, muito menos tentar entender o que acontece, tem mesmo que assistir. E é um dos melhores e mais estranhos filmes que vi ultimamente.
Ontem fui a Bienal. Fiquei um pouco frustrada, esperava mais. Mas alguns trabalhos me chamaram a atenção. Vou ver se consigo falar deles aqui mais tarde, e correr atrás de algumas imagens. De qualquer forma, me questiono sobre a utilização tão grande de vídeos numa exposição de grande porte como essa. Acho que não é o espaço ideal pra esse tipo de linguagem, que acaba perdendo a possibilidade de uma leitura atenta, eles se diluem no meio de tudo. Penso que a interntet, daqui a pouco tempo, vai ser um meio interessante pra essa linguagem, assim como os festivais que já acontecem.
Ainda em SP, por mais algum tempo, tenho recebido mensagens muito carinhosas. Obrigada. Decidi que vou dar um jeito de postar ao menos uma vez por dia. Tenho sentido falta de poder ler os blogs queridos, Hermes, Zé, Maffalda, Marco, Carpe, Rosana, Eloisa, da querida Meg, fora tantos outros que ainda não tive tempo de incluir nos meus favoritos. Resolvi dar um jeito nisso e fazer uma forcinha pra pelo menos dar uma passada por todos.
Ontem fui assistir ao espetáculo flamenco de Eva Yarbabuena. Considerada uma das maiores bailarinas flamencas da atualidade, Eva, que curiosamente nasceu na Alemanha, construiu um belo espetáculo, figurinos e iluminação impecáveis, músicos excelentes, ainda que a inclusão de um saxofonista, mesmo que discreto, tenha deixado a desejar.
A primeira parte do espetáculo, 5mujeres5, mistura o flamenco tradicional com movimentos mais livres, mesmo incursões de vídeo e outros recursos mais modernos. Espetacular. Eva consegue representar a força e a fragilidade femininas, o vigor, a graça, de forma encantadora. Peca um pouco por ser às vezes literal demais, quase narrativa. Mas até a metade da primeira parte, o que salta aos olhos é a coreografia, lírica. A partir do momento em que ela entra para seu primeiro solo, é que conseguimos identificar qual das bailarinas em cena é a que leva o nome da companhia. E ela arrasa. Virtuose do sapateado, fez o público prender a respiração, tamanha a sua facilidade e ousadia.
A segunda parte do espetáculo, Flamenco de la cava, mostra estruturas mais tradicionais do flamenco, a que chama flamenco puro, mas com muita liberdade. Os solos, de uma maneira geral, deram bastante espaço para a improvisação, uma das melhores coisas da dança flamenca. Mais espaço ainda para seu virtuosismo.
Espetáculo de encher os olhos, sem dúvida, mas curiosamente falta a Eva uma coisa fundamental para os grandes dançarinos. Ela tem pouco carisma. É difícil explicar, mas falta aquele brilho nato que nos impede de olhar para qualquer outra coisa. Há alguns anos, assisti ao espetáculo da Cristina Hoyos, uma lenda. Ela já estava com idade um pouco avançada, mas quando entrou em cena com mais quatro bailarinas, não tinha pra mais ninguém. Mesmo parada, parecia que ela preenchia o palco todo. Muito carisma. Faltou um bocado à Eva, o que não impede que ela seja uma grande bailarina.